quinta-feira, 8 de setembro de 2016

CASAMENTO: A ARTE DA VIDA A DOIS


Viver é conviver.
Isso é um fato incontestável. Não sem razão vivemos em sociedade.... Somos seres interdependes. 
Necessitamos uns dos outros para a plenitude do próprio ser. 
Sozinhos, nos enfraquecemos e definhamos.
Por isso toda relação é um convite ao crescimento coletivo e individual. 
E uma das relações mais intensas e estimulantes de amadurecimento está no casamento.
Interessado na reflexão deste assunto, Allan Kardec questiona aos espíritos, na pergunta 695 de O Livro dos Espíritos: O casamento, ou seja, a união permanente de dois seres é contrária à lei da Natureza?
E eles lhe respondem: É um progresso na marcha da Humanidade.
Sim, todo convívio é uma proposta de encontro e aprendizado, desenvolvimento e felicidade, portanto, um avanço, um salto em direção a tudo de melhor que podemos ser. Muito mais uma relação tão próxima e intima como a do casamento.
Diz o Espirito Emmanuel, através da mediunidade de Chico Xavier: "Essa união reflete as Leis Divinas que permitem seja dado um esposo para uma esposa, um companheiro para uma companheira, um coração para outro coração ou vice-versa, na criação e desenvolvimento de valores para a vida".
Isso não quer dizer que seja tudo fácil e simples.
Todo relacionamento é desafiador. Quanto mais íntimo se faz, mais dedicação nos exige.
Assim, a vida a dois, o compartilhar a nossa existência com outrem, demanda empenho e atenção.
Pensando nisso, dois psicólogos americanos, John e Julie Gottman, fizeram um estudo com casais para entender o sucesso ou fracasso de um casamento.
Segundo o estudo dos Gottmans, as duas coisas básicas que movem um relacionamento até o fim da vida são generosidade e bondade.

John e Julie criaram o “The Lab Love” (O Laboratório do Amor), levaram 130 casais para seu laboratório do amor, onde passaram o dia realizando tarefas corriqueiras como comer, cozinhar, limpar, enquanto os cientistas sociais os analisavam. Ao fim das análises, os estudiosos classificaram os casais em dois grupos: mestres e desastres. Passaram-se seis anos e os casais foram chamados novamente. Os mestres permaneciam juntos e felizes.

Os casais que pertenciam ao grupo “desastres” ou não estavam mais casados ou permaneciam juntos, porém infelizes. Esse resultado levou os cientistas a conclusão de que a generosidade é fundamental para o relacionamento entre o casal. Atos simples como responder a perguntas rotineiras com agressividade ou com generosidade afeta o futuro e a qualidade do seu relacionamento.
Perguntas como: “Você viu aquele pássaro?” podem ser a deixa para a esposa demonstrar mais interesse pelos gostos do marido, agindo com generosidade e bondade, criando uma conexão entre os dois.
Respostas ríspidas, desinteressadas ou ignorar o apontamento do seu companheiro por indiferença, significam bem mais do que apenas cansaço, ocupação, falta de tempo. Mas sim, podem representar que tudo é mais importante do que as coisas bobas que ele ou ela apreciam.

O estudo apontou que temos duas respostas a escolher quando se trata das questões de nossos companheiros, podemos optar por respostas generosas que nos aproximam como casal ou respostas ríspidas que nos afastam um do outro.
Os “mestres” escolhiam respostas generosas, criavam uma conexão com o companheiro, demonstrando-lhe interesse em suas necessidades emocionais.
Pessoas que agem com bondade e generosidade, como os casais que pertenciam ao grupo de “mestres” preocupam-se em criar um ambiente de apreciação e gratidão pelo o que o companheiro faz, em contrapartida, casais “desastres” constroem um ambiente baseado na insatisfação, sempre apontando para os erros do outro, para o que ele deixou de fazer, esquecendo-se dos pontos positivos.

A pesquisa mostrou que em situações como, o atraso da esposa ao se preparar para um jantar pode ser encarado pelo marido de duas maneiras diferentes: com bondade e generosidade ou com agressividade, concentrando-se apenas no fato de que ela sempre se atrasa, nunca se apronta na hora combinada, desconsiderando que o atraso pode ter sido motivado pelo tempo que ela gastou preparando uma surpresa para ele.
Generosidade e bondade podem salvar seu relacionamento. Não estou dizendo que no dia de aniversário de casamento, uma vez ao ano, você fará aquela surpresa linda, e pronto. O que a pesquisa revelou implica na aplicação diária de doses de generosidade e bondade, seja relevando uma coisa aqui, sendo gentil em outra situação ali, evitando cobranças desnecessárias e sempre, sempre e sempre concentrar-se no que a outra pessoa fez e faz de positivo, não de negativo. Sua esposa foi ao supermercado e comprou só alimentos, esquecendo-se do creme dental? Você escolhe: seja agressivo e reclame do creme que ela esqueceu ou agradeça pela comida que comprou. Sua escolha dirá que tipo de relacionamento você está vivendo.

John e Julie Gottman, após estudarem os casais com eletrodos enquanto conversavam, concluíram que casais do grupo “desastres” ficavam fisicamente afetados ao dialogarem com seus companheiros, fisiologicamente eram como se estivessem em guerra ou enfrentando um leopardo. Os “mestres” apresentavam passividade, relaxamento e tranquilidade ao conversarem.

Que fiquemos com esta reflexão sobre nossos compromissos afetivos, a fim que melhor possamos vive-los, encontrando o prazer que devemos ter neles, ofertando a alegria que nos aguardam os que nos entregaram os corações. Deixo ainda uma inspirada trova mediúnica, pela pena de Chico Xavier, a fim de nos abrir a tela dos sentimentos, para a doçura do afeto, cheio de esperanças:

"Os cônjuges, lado a lado,
Que conservam a alegria,
Vivem sempre de noivado,
Casando-se todo dia."

Jovino Guedes
Ed Sheeran - Photograph

sábado, 3 de setembro de 2016

PROCURA-SE UM POUCO DE AFETO

"Por onde fores, carrega contigo a bênção do entendimento e a luz da compaixão." (Meimei)

Onde quer estejamos no mundo...
Ha um clamor, uma rogativa, que passa despercebida pelos homens.
Assim diz Meimei, através da mediunidade psicográfica de Chico XavierE à frente de cada companheiro ou companheira que te cruzem a estrada, estejam eles cobertos de douradas titulações ou vestidos de andrajos, lembra-te de que cada um deles carrega no coração esta rogativa sem que a vejas: — “Compadeça-te de mim”.
Hoje chora-se, como nunca, pela falta de afeto e consideração.
A ausência de carinho também mata.
Passamos distraídos uns pelos outros sem notarmos a dor, a aflição alheia.
Me recordo de uma frase atribuída a Santo Agostinho: As pessoas viajam para admirar a altura... o movimento circular das estrelas, e no entanto elas passam por si mesmas sem se admirarem.
Talvez exatamente por isso sintamo-nos tão solitários e vazios.
Uma dor, que não sabemos definir, nos toma o peito, uma angustia sem nome nos perturba a mente.
Mas naquele passo de socorro a dor de alguém, nos deparamos com um alivio indefinível.
Conta-nos Madre Teresa de Calcutá: Nunca esquecerei uma experiência que tivemos faz algum tempo em nossa cidade. Fazia meses que não tínhamos açúcar e um meninozinho hindu, de quatro anos, foi a sua casa e disse a seus pais: “Não vou comer açúcar por três dias, vou dar o meu açúcar a Madre Teresa”. 

Era tão pouquinho o que trouxe depois de três dias! Mas seu amor era muito grande. É muito importante ter uma vida de paz, de alegria, de unidade. Para isso não creio que haja uma ciência maior que o amor pelo ser humano. 
Devemos aprender, como esse menino, que não é quanto damos mas sim quanto amor colocamos ao dar. Deus não espera coisas extraordinárias. Depois que recebi o Prêmio Nobel, muita gente fez doações; alimentaram aos nossos, trouxeram roupas, fizeram coisas bonitas. Uma tarde encontrei um mendigo na rua, que, veio até mim e disse: Madre Teresa, todos estão te dando algo, mas hoje, por todo o dia, só consegui duas moedinhas e quero dar-te isso. Não posso contar-lhes a alegria irradiante de seu rosto porque aceitei essas duas moedinhas sabendo que se ele não recebesse hoje algo mais, teria que dormir sem comer, mas sabendo também que o teria ferido muito se não as tivesse aceitado. Não lhes posso descrever a alegria e a expressão de paz e de amor de seu rosto. Só lhes posso dizer uma coisa: ao aceitar as duas moedinhas senti que era muito maior que o Prêmio Nobel, porque ele me deu tudo o que possuía e o fez com tanta ternura. Essa é a grandeza do amor. Tratemos de colocá-lo em ação. Onde
está Deus? Sabemos que Deus está em todas as partes. Na profundeza de nossos corações todos temos esse desejo, essa chama ardente, esse desejo de amor a Deus. Mas: como podemos amar a Deus, a quem não vemos se não o amamos nos outros a quem vemos? Quando vocês vêem uma pessoa na rua, quem é ela para vocês? Seu irmão? Sua irmã? A mesma mão amorosa que o criou, criou a todos. 
Nós, as irmãs e eu, temos visitado pessoas que não têm nada nem ninguém, pessoas às quais ninguém ama, nem cuida e não só na Índia. Na África e na Índia temos gente faminta de pão, mas na América, Europa e todos os lugares onde trabalham as irmãs, a pessoa tem fome de amor: de ser necessária, de ser amada, de ser alguém para os outros. 
Certa vez, creio que em Londres ou Nova Iorque, segurei a mão de alguém sentado na rua. Ele segurou a minha mão e me disse: “Oh!... esta é a primeira vez em muitos anos que sinto o calor da mão de alguém. Em tantos anos, ninguém nunca tocou minha mão. Não senti um calor humano ou o calor da mão”! Jamais me esquecerei disso.
Somente quando despertarmos desse torpor egoísta e hedonista, venceremos o "câncer" que nos devora como indivíduos e sociedade.
Sem a manifestação de nossos poderes da alma, não iremos longe.
Poderes que revelam-se na arte do bem querer, do compreender, do colocar-se no lugar do outro, do doar-se.
Será no contato com nossos corações amorosos que se iniciará um contagio de esperança e de paz.
A revolução final está nas mãos do homem de bem que, amorosamente, vê no próximo um espelho de seus anseios, sonhos e alegrias!
Amemos, pois, tudo passará a ser diferente.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

UM CORPO PARA O ALÉM

Por Richard Simonetti

O Homem é um Espírito encarnado em um corpo material.
O perispírito é o corpo semimaterial que une o Espírito ao corpo material.

Você pode não ser espírita, leitor amigo, mas se ligado a qualquer culto religioso, catolicismo, budismo, protestantismo, islamismo ou quejandos, é um espiritualista – concebe a existência e sobrevivência do Espírito, que anima os seres humanos.
Em O Livro dos Espíritos, questão 88, o mentor espiritual que orienta Kardec explica que o Espírito pode ser imaginado como uma chama, um clarão ou uma centelha etérea.
Sem morfologia, sem corpo, sem braços e sem pernas, como atua ele na dimensão espiritual?
Essa dúvida levou os teólogos medievais a desenvolverem o princípio de que a consciência está indissoluvelmente ligada ao cérebro.
Assim, se morre o homem, hiberna o Espírito.
Dormirá até hipotético juízo final, quando os mortos retornarão à vida, ressurgindo, literalmente, das cinzas. Só então, ligado ao corpo ressurrecto, o ser pensante retomará a consciência de si mesmo.

***

Levando em consideração essa fabulosa ideia, que supera a imaginação do mais audacioso ficcionista, como explicar os episódios a seguir?

• Segundo o Livro de Tobias, no Velho Testamento, um anjo, que diríamos Espírito protetor, toma a forma humana e durante algum tempo convive com o velho Tobias, cego, e seu filho o jovem Tobias, ajudando-os e protegendo-os, sem que eles soubessem de sua verdadeira natureza.

• Consultando a pitonisa de Endor, o rei Saul vê, estarrecido, o profeta Samuel que vem da morada dos mortos para dizer-lhe que ele pereceria no dia seguinte, juntamente com seus filhos, na batalha contra os filisteus, vaticínio terrível, que se cumpriu.

Jesus levou os apóstolos Pedro, João e Tiago a um monte, que a tradição fixou como o Tabor. E ali, segundo relatam os evangelistas, parecia resplandecer à luz do Sol, conversando com Moisés e Elias, figuras marcantes do Velho Testamento.

Paulo, perseguidor implacável dos cristãos, estava às portas de Damasco, onde pretendia prender Ananias, dedicado adepto da nova crença. Eis que, para sua surpresa, Jesus aparece diante dele, numa das mais emocionantes passagens do Evangelho, modificando os rumos de sua vida.

Santo Antônio, notável missionário cristão, fazia sua costumeira pregação em Pádua, na Itália, quando, assustando o público, pareceu sofrer fulminante síncope. Simultaneamente apresentou-se num tribunal em Lisboa, a oitocentos quilômetros, para defender seu pai que estava sendo injustamente julgado por um crime que não cometera. Após desfazer a intriga, o santo desapareceu de Lisboa e acordou em Pádua, para alívio dos fiéis.

• A professora ministrava a aula quando, sonolenta, sentou-se numa cadeira e ali permaneceu imóvel. Uma aluna, à janela, chamou as colegas. A mestra estava lá fora. Viam agora duas professoras, uma adormecida na cadeira; a outra, um clone perfeito, passeando no jardim. Pouco depois sumiu a de fora; despertou a de dentro.


• Noite alta, um médico ouviu baterem à porta de sua casa, perto de movimentada estrada. Jovem mulher, em desespero, pediu-lhe socorro para vítimas de um acidente de automóvel. Ele atendeu prontamente, correndo para o local, nas imediações. Ali deparou-se com uma criança a chorar, ao lado da motorista morta. Estupefato constatou que era a mulher que lhe pedira socorro.

Uma senhora acordou vendo o filho ao seu lado. Parecia ferido e aflito, mas logo desapareceu. Preocupada, não conseguiu mais conciliar o sono. Pela manhã recebeu a notícia de que o rapaz morrera num acidente de automóvel, em plena madrugada, pouco antes de sua visão.

Uma mulher deitou-se e apagou a luz. Observou que o cônjuge se levantou e saiu do quarto. Ficou apavorada, porquanto estava abraçada a ele na cama.

Um médium vidente, em reunião mediúnica, informa a presença de um visitante espiritual. Trata-se de membro do grupo, recém-desencarnado. Não tem dificuldade em identificá-lo. É o próprio, apresentando-se sorridente e feliz.

Visitantes de um castelo com fama de mal-assombrado assustam-se ao ver um homem de lúgubre aparência, jeito ameaçador, identificado como falecido proprietário do castelo.

São episódios distintos, mas têm algo em comum.
Em todos houve o contato de homens com Espíritos.
Três eram encarnados.
Atente ao detalhe, amigo leitor: invariavelmente, os Espíritos tinham cabeça, tronco, membros e outros detalhes da morfologia humana!
Isto significa, obviamente, que afora o chamado veículo carnal, temos outro, que nos serve para atuar na dimensão espiritual.
Não é novidade.
Desde as culturas mais antigas, cogitou-se do assunto.
No budismo esotérico falava-se desse corpo. Era o Kama-Rupa.
Pitágoras o denominava carne sutil da alma.
Aristóteles dizia corpo etéreo.
Hermetistas e alquimistas falavam em corpo astral.
Paulo reporta-se a ele, na Epístola aos Coríntios, quando diz que há corpos terrestres e corpos celestes. E proclama:

Semeia-se o corpo na corrupção (morto) e ele revive na incorrupção (o corpo espiritual).

Quando morremos, o corpo físico se decompõe.
O Espírito passa a usar o corpo espiritual, não passível de decomposição.



Allan Kardec define o corpo espiritual como perispírito, composto a partir do prefixo grego peri, em torno. Seria, portanto, como que o “revestimento” do Espírito.
O perispírito é o elo de ligação entre o Espírito e a carne.
Daí dizer-se que o homem é composto de três partes distintas:
Espírito, perispírito e corpo físico.
Como o perispírito é uma espécie de fôrma da forma física, ao desencarnar o Espírito tende a conservar a morfologia humana. Em condições especiais pode tornar-se visível aos homens, como nos casos citados.
Há múltiplas funções exercidas pelo corpo espiritual.
Está sempre presente nos fenômenos mediúnicos. É a natureza de sua ligação com o corpo físico que vai determinar se o indivíduo terá maior ou menor sensibilidade, se terá determinada faculdade a desenvolver.
Quando alguém está extremamente debilitado fisicamente, afrouxam-se os laços perispirituais, facultando-lhe visões do mundo espiritual. Esta a razão pela qual os moribundos parecem ter alucinações, reportando-se à presença de familiares e amigos desencarnados.
Realmente os vêem.

***

A saúde subordina-se estreitamente às condições do perispírito. Grande parte dos males físicos e psíquicos que nos afetam reflete seus desajustes.
A fluidoterapia ou a aplicação do passe magnético, prática comum nos Centros Espíritas, é uma transfusão de energias que tonificam o corpo celeste, com excelentes resultados.
Melhor ainda são os cuidados profiláticos – evitar o desajuste para não se perder tempo, nem desgastar-se com ele.
O perispírito reflete a vida íntima.
Consciência tranquila, deveres cumpridos, virtude cultivada – perispírito saudável.
Consciência culpada, irresponsabilidade, envolvimento com o vício, pensamento desajustado – perispírito comprometido.
Alguns casos ilustrativos.

• A mulher que pratica o aborto habilita-se à esterilidade, tumores e infecções renitentes.

• O alcoólatra terá problemas no sistema digestivo, particularmente no fígado.

• O fumante experimentará dificuldades respiratórias, envolvendo enfisema pulmonar, bronquite, asma…

• O suicida terá desajustes e enfermidades relacionados com a natureza do suicídio, a maneira que escolheu para furtar-se aos desafios da vida.

• O maledicente experimentará limitações no exercício da palavra – distúrbios vocais, dificuldade de raciocínio.

As conseqüências de nossas ações gravam-se no corpo etéreo a cada gesto, a cada má palavra, a cada pensamento negativo, refletindo-se em nossos estados emocionais, a gerar variados problemas físicos e psíquicos.
Por isso, se queremos cultivar a saúde e sustentar a harmonia, é preciso que observemos preciosa orientação do apostolo Paulo (Epístola aos Filipenses, 4:8):

Tudo o que é verdadeiro,
Tudo o que é honesto,
Tudo o que é justo,
Tudo o que é puro,
Tudo o que é amável,
Tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.

(Richard Simonetti, livro Espiritismo, Uma Nova Era para a Humanidade.)

sábado, 20 de agosto de 2016

O EGOISMO

Por Léon Denis

O egoísmo é irmão do orgulho e procede das mesmas causas. É uma das mais terríveis enfermidades da alma, o maior obstáculo ao melhoramento social. Por si só ele neutraliza e torna estéreis quase todos os esforços que o homem faz para atingir o bem. Por isso, a preocupação constante de todos os amigos do progresso, de todos os servidores da justiça deve ser a de combatê-lo. O egoísmo é a persistência em nós desse individualismo feroz que caracteriza o animal, como vestígio do estado de inferioridade pelo qual todos já passamos. Mas, antes de tudo, o homem é um ser social. Está destinado a viver com os seus semelhantes; nada pode fazer sem o concurso destes. Abandonado a si mesmo, ficaria impotente para satisfazer suas necessidades, para desenvolver suas qualidades. Depois de Deus, é à sociedade que ele deve todos os benefícios da existência, todos os proventos da civilização. De tudo aproveita, mas precisamente esse gozo, essa participação dos frutos da obra comum lhe impõe também o dever de cooperar nela. Estreita solidariedade liga-o a esta sociedade, como parte integrante e mutuante. Permanecer inativo, improdutivo, inútil, quando todos trabalham, seria ultraje à lei moral e quase um roubo; seria o mesmo que lucrar com o trabalho alheio ou recusar restituir um empréstimo que se tomou. Como parte integrante da sociedade, o que o atingir também atinge a todos. É por essa compreensão dos laços sociais, da lei de solidariedade que se mede o egoísmo que está em nós. Aquele que souber viver em seus semelhantes e por seus semelhantes não temerá os ataques do egoísmo. Nada fará sem primeiro saber se aquilo que produz é bom ou mau para os que o rodeiam, sem indagar, com antecedência, se os seus atos são prejudiciais ou proveitosos à sociedade que integra. Se parecerem vantajosos para si só e prejudiciais para os outros, sabe que em realidade eles são maus para todos e por isso se abstém escrupulosamente. A avareza é uma das mais repugnantes formas do egoísmo, pois demonstra a baixeza da alma que, monopolizando as riquezas necessárias ao bem comum, nem mesmo sabe delas aproveitar-se. O avarento, pelo seu amor ao ouro, pelo seu ardente desejo de adquirir, empobrece os semelhantes e torna-se também indigente; pois, ainda maior que essa prosperidade aparente, acumulada sem vantagem para pessoa alguma, é a pobreza que lhe fica, por ser tão lastimável como a do maior dos desgraçados e merecer a reprovação de todos. Nenhum sentimento elevado, coisa alguma do que constitui a nobreza da criatura pode germinar na alma de um avarento. A inveja e a cupidez que o atormentam sentenciam-lhe uma existência penosa, um futuro mais miserável ainda. Nada lhe iguala o desespero, quando vê, de além-túmulo, seus tesouros serem repartidos ou dispersados. Vós que procurais a paz do coração, fugi desse mal repugnante e desprezível. Mas, não caiais no excesso contrário. Não desperdiceis coisa alguma. Sabei usar de vossos recursos com critério e moderação. O egoísmo traz em si o seu próprio castigo. O egoísta só vê a sua pessoa no mundo, é indiferente a tudo o que lhe for estranho. Por isso são cheias de aborrecimento as horas de sua vida. Encontra o vácuo por toda parte, na existência terrestre, assim como depois da morte, porque, homens ou Espíritos, todos lhe fogem.

Aquele que, pelo contrário, aproveitando-se do trabalho já encetado por outros, sabe cooperar, na medida de suas forças, para a obra social e vive em comunhão com seus semelhantes, fazendo-os compartilhar de suas faculdades e de seus bens, ou espalhando ao seu redor tudo o que tem de bom em si, esse se sente mais feliz. Está consciente de ter obedecido à lei e sabe que é um membro útil à sociedade. Interessa-lhe tudo o que se realiza no mundo, tudo o que é grande e belo sensibiliza-o e comove; sua alma vibra em harmonia com todos os espíritos esclarecidos e generosos; o aborrecimento e o desânimo não têm nele acesso. Nosso papel não é, pois, o da abstenção, mas, sim, o de pugnar continuamente pela causa do bem e da verdade. Não é sentado nem deitado que nos cumpre contemplar o espetáculo da vida humana em suas perpétuas renovações: é de pé, como campeão ou como soldado, pronto a participar de todos os grandes trabalhos, a penetrar em novos caminhos, a fecundar o patrimônio comum da Humanidade. Embora se encontre em todas as classes sociais, o egoísmo é mais apanágio do rico que do pobre. Muitíssimas vezes a prosperidade esfria o coração; no entanto, o infortúnio, fazendo conhecer o peso da dor, ensina-nos a compartilhar dos males alheios. O rico saberá ao menos a preço de que trabalhos, de que duros labores se obtêm as mil coisas necessárias ao seu luxo? Jamais nos sentemos a uma mesa bem servida sem primeiro pensar naqueles que passam fome. Tal pensamento tornar-nos-á sóbrios, comedidos em apetites e gostos. Meditemos nos milhões de homens curvados sob os ardores do estio ou debaixo de duras intempéries e que, em troca de deficiente salário, retiram do solo os produtos que alimentam nossos festins e ornam nossas moradas. Lembremo-nos que, para iluminar os nossos lares com resplandecente luz ou para fazer brotar chama benfeitora em nossas cozinhas, homens, nossos semelhantes, capazes como nós de amar, de sentir, trabalham nas entranhas da terra, longe do céu azul ou do alegre sol, e, de picareta em punho, levam toda a vida a perfurar a espessa crosta deste planeta. Saibamos que, para ornar os salões com espelhos, com cristais brilhantes, para produzir os inumeráveis objetos que constituem o nosso bem-estar, outros homens, aos milhares, semelhantes ao demônio em volta de uma fogueira, passam sua vida no calor calcinante das grandes fornalhas das fundições, privados de ar, extenuados, consumidos antes do tempo, só tendo por perspectiva uma velhice achacosa e desamparada. Sim, saibamo-lo, todo esse conforto de que gozamos com indiferença é comprado com o suplício dos humildes e com o esmagamento dos fracos. Que esse
pensamento se grave em nós, que nos siga e nos obsidie; como uma espada de fogo, ele enxotará o egoísmo dos nossos corações e forçar-nos-á a consagrar nossos bens, lazeres e faculdades à melhoria da sorte dessas criaturas. Não haverá paz entre os homens, não haverá segurança, felicidade social enquanto o egoísmo não for vencido, enquanto não desaparecerem os privilégios, essas perniciosas desigualdades, a fim de cada um participar, pela medida de seus méritos e de seu trabalho, do bem-estar de todos. Não pode haver paz nem harmonia sem justiça. Enquanto o egoísmo de uns se nutrir dos sofrimentos e das lágrimas de outros, enquanto as exigências do eu sufocarem a voz do dever, o ódio perpetuar-se-á sobre a Terra, as lutas de interesse dividirão os ânimos, tempestades surgirão no seio das sociedades. Graças, porém, ao conhecimento do nosso futuro, a ideia de solidariedade acabará por prevalecer. A lei da reencarnação, a necessidade de renascer em condições modestas, servirão como aguilhões a estimular o egoísta. Diante dessas perspectivas, o sentimento exagerado da personalidade atenuar-se-á para dar lugar a uma noção mais exata da situação e papel do homem no Universo. Sabendo-nos ligados a todas as almas, solidários no seu adiantamento e felicidade, interessar-nos-emos com ardor pela sua condição, pelos seus progressos, pelos seus trabalhos. E, à medida que esse sentimento se estender pelo mundo, as instituições, as relações sociais melhorarão, a fraternidade, essa palavra repetida banalmente por tantos lábios, descerá aos corações e tornar-se-á uma realidade. Então nos sentiremos viver nos outros, para fruir de suas alegrias e sofrer de seus males. Não mais haverá queixume sem eco, uma só dor sem consolação. A grande família humana, forte, pacífica e unida, adiantar-se-á com passo rápido para os seus belos destinos.

Do Livro "O Caminho Reto"

EXISTEM ESPÍRITOS?

Sim...
Comum é ouvirmos indagação como esta do titulo.
Embora grande parte da população do globo siga uma ou outra filiação religiosa, sendo assim, espiritualistas, ainda ha da parte de muitos a duvida dessa realidade: Há nos seres algo além da matéria em si.
Existe um principio independente do organismo físico?
As experiencias que temos vivenciado, desde a infância, nos confirmam este fato.
A convivência com nosso pai, espirita e médium, nos demonstrou inúmeros fenômenos, que somente a imortalidade do ser explica.
Quantas vezes pessoas sofridas, algumas já a longo tempo sendo amparadas por recursos médicos, vinham em nosso lar em busca de preces e alivio. Recordo como se fosse ocorrido neste instante, ele impor as mãos sobre suas cabeças, após uma prece sentida, transmitindo-lhes amoroso magnetismo através do conhecido passe, tão usado nas casas espiritas.
Logo em seguida, elas já se mostravam bem mais dispostas, animadas, revigoradas mesmo. Muitas dessas vezes nosso pai relatava a origem do problema de saúde, o órgão que estava necessitado de cuidados, e quantas relatavam mais tarde confirmando o fato e a melhora das mesmas.
Perguntava a ele como isso era possível, como ele sabia, como ele via o problema da pessoa e ele dizia que com os "olhos da alma", ou outras tantas vezes através do concurso de amigos de luz que se faziam presentes ao lado dos aflitos. Seres que não captava com meus olhos físicos, mas que tantas e tantas vezes se  faziam presentes em socorro as dores alheias.
Mais tarde, me debruçando nas obras espiritas de sua estante, fui compreendendo que realmente somos mais do que os olhos veem. Não somos a carne, os nervos, ossos, órgãos... somos o Espirito Imortal que comanda e coordena esse veiculo material que chamamos corpo.
Em o Livro dos Médiuns, assim Allan Kardec aborda o assunto no 1º capitulo: "A causa principal da dúvida sobre a existência dos Espíritos é a ignorância da sua verdadeira natureza. Imaginam-se os Espíritos como seres à parte na Criação, sem nenhuma prova da sua necessidade. Muitas pessoas só concedem os Espíritos através das estórias fantasiosas que ouviram em crianças, mais ou menos como as que conhecem História pelos romances. Não procuram saber se essas estórias, desprovidas do pitoresco, podem revelar um fundo verdadeiro, ao lado do absurdo que as choca. (...) 
Seja qual for à ideia que se faça dos Espíritos, a crença na sua existência decorre necessariamente do fato de haver um princípio inteligente no Universo, além da matéria. Essa crença é incompatível com a negação absoluta do referido princípio. Partimos, pois, da aceitação da existência, sobrevivência e individualidade da alma, de que o Espiritualismo em geral nos oferece a demonstração teórica dogmática, e o Espiritismo a demonstração experimental."
E dentro desses fatos experimentais, não podemos recusar as experiencias de homens e mulheres dignos e honrados, como William Crookes, Charles Richet, Elizabeth D'Esperance, Luis Almeida, Herculano Pires, Ian Stevenson, Hernani Guimarães Andrade e muitos outros que com toda seriedade pesquisaram o assunto, com todo critério cientifico, afirmando o Espirito como a grande realidade humana.
Trazendo mais perto de nós, como não citar o inesquecível Chico Xavier, médium e homem extraordinário, que nos trouxe experiencias luminosas nesse campo. 
Certa vez, estando nosso estimado Chico em São Paulo, aproveitou para fazer uma visita de rotina ao seu médico oftalmologista, Dr. Nadir Sáfadi, que vinha cuidando de suas dificuldades de ordem visual.
O respeitado médico examinava as órbitas oculares de Chico com toda a atenção e cuidado que a profissão exige, quando soltou-lhe, à queima-roupa, a seguinte questão:
— Chico, me diga uma coisa, você vê mesmo os espíritos? Ao que Chico respondeu, prontamente:
— Vejo, sim, senhor, Dr. Nadir. É verdade que trago comigo a faculdade mediúnica da vidência!
O médico, curioso, retrucou-lhe:
— Mas como é que enxerga os espíritos com estes olhos, assim, tão debilitados`? Você os vê com estes olhos mesmo?
— Ah, não senhor. A mediunidade vidente não depende dos olhos do corpo físico. O assunto nos exige muito estudo, disse-lhe o Chico.
— Então, me diga se está vendo algum espírito aqui, em meu consultório, Chico.
— Eu confirmo que estou vendo um Espírito aqui conosco, Dr. Nadir.
— Mas, então, diga-me, Chico, quem é que está aqui? Qual o nome dele?
Chico parou por um momento, meio desconcertado. O espírito já havia se identificado, mas o estimado médium vacilava entre aceitar ou não aquele nome tão incomum. “Afinal — pensava Chico — — será que estou sendo vítima de alguma chacota dos Espíritos? Não me lembro de ter ouvido este nome antes, um nome assim tão estranho, me fazendo lembrar a figura da cebola! Meu Deus, que fazer?”
Tudo isso pensava silenciosamente o médium, deixando Dr. Nadir na expectativa da resposta.
Ante a sua insistência, Chico respondeu, afinal:
— Ele está me dizendo chamar-se Senobelino Serra. Diz ter sido natural de São José do Rio Preto. Dr. Senobelino Serra.
— Oh, Chico, não me diga que ele está aqui conosco! — espantou-se o Dr. Nadir. — Dr. Senobelino Serra foi meu professor, foi muito amigo meu!
Mais aliviado com a confirmação da identidade espiritual, Chico completou:
— Pois, então, é ele mesmo, Dr. Nadir. Ele está me dizendo que foi designado pela Espiritualidade Maior para ajudar o senhor na profissão de médico oftalmologista, juntamente com outros amigos, porque o senhor ajuda muita gente aqui no consultório, Dr. Nadir!
Visivelmente emocionado, o médico nada mais perguntou.
Nas palavras de Allan Kardec: "Como vemos, as almas que povoam o espaço são precisamente o que chamamos de Espíritos. Assim, os Espíritos são apenas as almas humanas, despojadas do seu invólucro corporal."
São relatos assim, que nos fazem mais profundamente meditar sobre quem de fato somos e nosso papel dentro da Vida. Sem misticismo e sem toques de sobrenatural, o Espiritismo nos conclama a estudarmos o sentido mais profundo de nós mesmos. 
Sentido que todas as religiões, de um modo ou outro, também possuem em seus princípios. E que o Espiritismo somente vem reforçar e clarear, elevando as palavras do próprio Cristo aos nossos corações:

O espírito é que vivifica, a carne para nada serve. (João 6:63)

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

O JUÍZO FINAL

Vivemos tempos conturbados, onde a aflição toma conta de muitos corações.
Não são poucos a crerem que estamos numa especie de "fim dos tempos", tão alarmantes sejam os noticiários e convulsões sociais. Como espirita, compreendo as problemáticas da vida como transições, transformações, necessárias ao progresso de todos, afinal se somos frutos da Inteligência Suprema, causa primeira de todas as coisas, somos projetos destinados ao sucesso e a felicidade.
Assim sendo, fatal será apenas a melhoria de todos, passo a passo e mesmo dor a dor.
Me lembro de uma canção de Nelson Cavaquinho, chamada Juízo Final, em que sua letra declara:

"O sol....há de brilhar mais uma vez
A luz....há de chegar aos corações
Do mal....será queimada a semente"

O Bem é a força maior que há de imperar sobre todas as calamidades e para melhor refletirmos sobre o assunto, deixamos trecho interessantíssimo do livro A Gênese, de Allan Kardec, abaixo.
Acompanhemos:

Ora, quando o Filho do Homem vier em sua majestade, acompanhado de todos os anjos, assentar-se-á no trono de sua glória; — e, reunidas à sua frente todas as nações, Ele separará uns dos outros, como um pastor separa dos bodes as ovelhas, e colocará à sua direita as ovelhas e à sua esquerda os bodes. — Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: “Vinde a mim, benditos de meu Pai [...].” (Mateus, 25:31 a 46; O evangelho segundo o espiritismo, cap. XV.)

Tendo que reinar na Terra o bem, necessário é sejam dela excluídos os Espíritos endurecidos no mal e que possam acarretar-lhe perturbações. Deus permitiu que eles aí permanecessem o tempo de que precisavam para se melhorarem; mas, chegado o momento em que, pelo progresso moral de seus habitantes, o globo terráqueo tem de ascender na hierarquia dos mundos, interdito será ele, como morada, a encarnados e desencarnados que não hajam aproveitado os ensinamentos que uns e outros se achavam em condições de aí receber. Serão exilados para mundos inferiores, como o foram outrora para a Terra os da raça adâmica, vindo substituí-los Espíritos melhores. Essa separação, a que Jesus presidirá, é que se acha figurada por estas palavras sobre o juízo final: “Os bons passarão à minha direita e os maus à minha esquerda.”
A doutrina de um juízo final, único e universal, pondo fim para sempre à humanidade, repugna à razão, por implicar a inatividade de Deus, durante a eternidade que precedeu à criação da Terra e durante a eternidade que se seguirá à sua destruição. Que utilidade teriam então o Sol, a Lua e as estrelas que, segundo a Gênese, foram feitos para iluminar o mundo? Causa espanto que tão imensa obra se haja produzido para tão pouco tempo e a benefício de seres votados de antemão, em sua maioria, aos suplícios eternos.
Materialmente, a ideia de um julgamento único seria, até certo ponto, admissível para os que não procuram a razão das coisas, quando se cria que a humanidade toda se achava concentrada na Terra e que para seus habitantes fora feito tudo o que o universo contém. É, porém, inadmissível, desde que se sabe que há milhares de milhares de mundos semelhantes,que perpetuam as humanidades pela eternidade em fora e entre os quais a Terra é dos menos consideráveis, simples ponto imperceptível. Vê-se, só por este fato, que Jesus tinha razão de declarar a seus discípulos: “Há muitas coisas que não vos posso dizer, porque não as compreenderíeis”, dado que o progresso das ciências era indispensável para uma interpretação legítima de algumas de suas palavras. Certamente, os apóstolos, Paulo e os primeiros discípulos teriam estabelecido de modo muito diverso alguns dogmas se tivessem os conhecimentos astronômicos, geológicos, físicos, químicos, fisiológicos e psicológicos que hoje possuímos. Daí vem o ter Jesus adiado a completação de seus ensinos e anunciado que todas as coisas haviam de ser restabelecidas.
Moralmente, um juízo definitivo e sem apelação não se concilia com a bondade infinita do Criador, que Jesus nos apresenta de contínuo como um bom Pai, que deixa sempre aberta uma senda para o arrependimento e que está pronto sempre a estender os braços ao filho pródigo. Se Jesus entendesse o juízo naquele sentido, desmentiria suas próprias palavras. Além disso, se o juízo final houvesse de apanhar de improviso os homens, em meio de seus trabalhos ordinários, e grávidas as mulheres, caberia perguntar-se com que fim Deus, que não faz coisa alguma inútil ou injusta, faria nascessem crianças e criaria almas novas naquele momento supremo, no termo fatal da humanidade. Seria para submetê-las a julgamento logo ao saírem do ventre materno, antes de terem consciência de si mesmas, quando, a outros, milhares de anos foram concedidos para se inteirarem do que respeita à própria individualidade? Para que lado, direito ou esquerdo, iriam essas almas, que ainda não são nem boas nem más e para as quais, no entanto, todos os caminhos de ulterior progresso se encontrariam desde então fechados, visto que a humanidade não mais existiria?
Conservem-nas os que se contentam com semelhantes crenças; estão no seu direito e ninguém nada tem que dizer a isso; mas, não achem mau que nem toda gente partilhe delas.
 O juízo, pelo processo da emigração, conforme ficou explicado acima, é racional; funda-se na mais rigorosa justiça, visto que conserva para o Espírito, eternamente, o seu livre-arbítrio; não constitui privilégio para ninguém; a todas as suas criaturas, sem exceção alguma, concede Deus igual liberdade de ação para progredirem; o próprio aniquilamento de um mundo, acarretando a destruição do corpo, nenhuma interrupção ocasionará à marcha progressiva do Espírito. Tais as consequências da pluralidade dos mundos e da pluralidade das existências. Segundo essa interpretação, não é exata a qualificação de juízo final, pois que os Espíritos passam por análogas fieiras a cada renovação dos mundos por eles habitados, até que atinjam certo grau de perfeição. Não há, portanto, juízo final propriamente dito, mas juízos gerais em todas as épocas de renovação parcial ou total da população dos mundos, por efeito das quais se operam as grandes emigrações e imigrações de Espíritos.

("A Gênese segundo o Espiritismo", Cap. 17, Predições do Evangelho)

terça-feira, 16 de agosto de 2016

O CÉU E O INFERNO EM NÓS

Mohandas Karamchand Gandhi foi um homem fabuloso e inesquecível.
Seu conhecimento sobre as leis de Deus é digno de nosso mais profundo respeito e admiração.
Uma das mais belas passagens de sua vida é relatada com competência pelo cineasta britânico Richard Attenborough.
O filme mostra a sangrenta guerra civil que se seguiu à divisão da Índia em Paquistão muçulmano e Índia hindu.
As mortes só trouxeram retaliações e mais vítimas, até que Gandhi, líder espiritual respeitado por hindus e muçulmanos, iniciou um jejum e jurou que não comeria até que a matança terminasse, mesmo que isso significasse sua morte por inanição.

Esse foi apenas um dos muitos jejuns de Gandhi defendendo a não-violência.

Um hindu enlouquecido visitou o Mahatma e, ao chegar aos pés da cama onde estava, atirou-lhe um pedaço de pão enquanto gritava:
Eu já vou para o inferno e não quero a culpa da sua morte também em minha alma! Coma, por favor!
Gandhi, sereno como sempre, replicou:

Por que você vai para o inferno?

O hindu tremia ao responder:
Eu tinha um filho pequeno, mais ou menos deste tamanho, que foi assassinado pelos muçulmanos. Então, eu peguei a primeira criança muçulmana que consegui encontrar e a matei, arrebentando-lhe a cabeça contra uma parede.
Gandhi fechou os olhos e chorou por dentro.
Depois se recompôs, pois sabia da importância de seu papel perante aquele povo e, com esperança na voz, disse:

Eu conheço um jeito de escapar do inferno.

Muitos meninos agora estão sem os pais por causa da matança. Encontre um menino muçulmano, com mais ou menos este tamanho - repetindo o gesto feito pelo visitante há pouco – e o crie como se fosse seu. Adote-o.
O homem desorientado estava admirado com a proposta, e tentava assimilá-la da melhor forma. Uma brisa de esperança chegou-lhe ao rosto.
Porém, Gandhi não havia terminado sua fala:

Atente apenas para um detalhe: você não deve esquecer que deverá criá-lo como um muçulmano.

O hindu não estava preparado para aquela proposta. Era muito diferente de tudo que sentia, de tudo
que pensava. Era uma proposta revolucionária.
Era a revolução da lei do amor, ensinada por Gandhi, de forma magistral.

O homem caiu aos pés do mestre. A loucura abandonou seus olhos, que choravam copiosamente.
Gandhi colocou as mãos na cabeça do hindu, abençoando-o do fundo de seu coração, desejando que ele pudesse aceitar seu novo caminho, o caminho para sair do inferno.
Quando o hindu saiu, ele tinha um pouco de paz no coração, e uma proposta da lei do amor em suas mãos: proposta de perdão e de autoperdão.

Nada como o amor, em toda sua resplandecência, para nos libertar desse estado d’alma de inferno.

Sim, já somos capazes de entender que o inferno não é um local delimitado no espaço, mas um estado d’alma temporário.

Para alguns, desorientados e reincidentes nos mesmos erros, esse estado de espírito parece uma eternidade, mas essa dita eternidade dura apenas o tempo do aprendizado, o tempo do despertar para o amor.

O amor cobre uma multidão de pecados, conforme tão bem afirmou o Apóstolo Pedro.

A lei de causa e efeito abraça-se à lei da amorosidade e ambas, interligadas sempre, carregam-nos para a tão desejada felicidade.

O Céu ou Paraíso, não está longe de nós. Pelo contrario...
Quando descobrimos o tesouro de compaixão e bondade que existem em nós, todas as aflições cessam. E em torno, a Lei da Vida nos responderá com doces frutos de paz. E cada manhã há de repetir as sabias palavras o Cristo: "O Reino de Deus está dentro de vós"!

"A PAZ" - Roupa Nova