segunda-feira, 29 de agosto de 2016

UM CORPO PARA O ALÉM

Por Richard Simonetti

O Homem é um Espírito encarnado em um corpo material.
O perispírito é o corpo semimaterial que une o Espírito ao corpo material.

Você pode não ser espírita, leitor amigo, mas se ligado a qualquer culto religioso, catolicismo, budismo, protestantismo, islamismo ou quejandos, é um espiritualista – concebe a existência e sobrevivência do Espírito, que anima os seres humanos.
Em O Livro dos Espíritos, questão 88, o mentor espiritual que orienta Kardec explica que o Espírito pode ser imaginado como uma chama, um clarão ou uma centelha etérea.
Sem morfologia, sem corpo, sem braços e sem pernas, como atua ele na dimensão espiritual?
Essa dúvida levou os teólogos medievais a desenvolverem o princípio de que a consciência está indissoluvelmente ligada ao cérebro.
Assim, se morre o homem, hiberna o Espírito.
Dormirá até hipotético juízo final, quando os mortos retornarão à vida, ressurgindo, literalmente, das cinzas. Só então, ligado ao corpo ressurrecto, o ser pensante retomará a consciência de si mesmo.

***

Levando em consideração essa fabulosa ideia, que supera a imaginação do mais audacioso ficcionista, como explicar os episódios a seguir?

• Segundo o Livro de Tobias, no Velho Testamento, um anjo, que diríamos Espírito protetor, toma a forma humana e durante algum tempo convive com o velho Tobias, cego, e seu filho o jovem Tobias, ajudando-os e protegendo-os, sem que eles soubessem de sua verdadeira natureza.

• Consultando a pitonisa de Endor, o rei Saul vê, estarrecido, o profeta Samuel que vem da morada dos mortos para dizer-lhe que ele pereceria no dia seguinte, juntamente com seus filhos, na batalha contra os filisteus, vaticínio terrível, que se cumpriu.

Jesus levou os apóstolos Pedro, João e Tiago a um monte, que a tradição fixou como o Tabor. E ali, segundo relatam os evangelistas, parecia resplandecer à luz do Sol, conversando com Moisés e Elias, figuras marcantes do Velho Testamento.

Paulo, perseguidor implacável dos cristãos, estava às portas de Damasco, onde pretendia prender Ananias, dedicado adepto da nova crença. Eis que, para sua surpresa, Jesus aparece diante dele, numa das mais emocionantes passagens do Evangelho, modificando os rumos de sua vida.

Santo Antônio, notável missionário cristão, fazia sua costumeira pregação em Pádua, na Itália, quando, assustando o público, pareceu sofrer fulminante síncope. Simultaneamente apresentou-se num tribunal em Lisboa, a oitocentos quilômetros, para defender seu pai que estava sendo injustamente julgado por um crime que não cometera. Após desfazer a intriga, o santo desapareceu de Lisboa e acordou em Pádua, para alívio dos fiéis.

• A professora ministrava a aula quando, sonolenta, sentou-se numa cadeira e ali permaneceu imóvel. Uma aluna, à janela, chamou as colegas. A mestra estava lá fora. Viam agora duas professoras, uma adormecida na cadeira; a outra, um clone perfeito, passeando no jardim. Pouco depois sumiu a de fora; despertou a de dentro.


• Noite alta, um médico ouviu baterem à porta de sua casa, perto de movimentada estrada. Jovem mulher, em desespero, pediu-lhe socorro para vítimas de um acidente de automóvel. Ele atendeu prontamente, correndo para o local, nas imediações. Ali deparou-se com uma criança a chorar, ao lado da motorista morta. Estupefato constatou que era a mulher que lhe pedira socorro.

Uma senhora acordou vendo o filho ao seu lado. Parecia ferido e aflito, mas logo desapareceu. Preocupada, não conseguiu mais conciliar o sono. Pela manhã recebeu a notícia de que o rapaz morrera num acidente de automóvel, em plena madrugada, pouco antes de sua visão.

Uma mulher deitou-se e apagou a luz. Observou que o cônjuge se levantou e saiu do quarto. Ficou apavorada, porquanto estava abraçada a ele na cama.

Um médium vidente, em reunião mediúnica, informa a presença de um visitante espiritual. Trata-se de membro do grupo, recém-desencarnado. Não tem dificuldade em identificá-lo. É o próprio, apresentando-se sorridente e feliz.

Visitantes de um castelo com fama de mal-assombrado assustam-se ao ver um homem de lúgubre aparência, jeito ameaçador, identificado como falecido proprietário do castelo.

São episódios distintos, mas têm algo em comum.
Em todos houve o contato de homens com Espíritos.
Três eram encarnados.
Atente ao detalhe, amigo leitor: invariavelmente, os Espíritos tinham cabeça, tronco, membros e outros detalhes da morfologia humana!
Isto significa, obviamente, que afora o chamado veículo carnal, temos outro, que nos serve para atuar na dimensão espiritual.
Não é novidade.
Desde as culturas mais antigas, cogitou-se do assunto.
No budismo esotérico falava-se desse corpo. Era o Kama-Rupa.
Pitágoras o denominava carne sutil da alma.
Aristóteles dizia corpo etéreo.
Hermetistas e alquimistas falavam em corpo astral.
Paulo reporta-se a ele, na Epístola aos Coríntios, quando diz que há corpos terrestres e corpos celestes. E proclama:

Semeia-se o corpo na corrupção (morto) e ele revive na incorrupção (o corpo espiritual).

Quando morremos, o corpo físico se decompõe.
O Espírito passa a usar o corpo espiritual, não passível de decomposição.



Allan Kardec define o corpo espiritual como perispírito, composto a partir do prefixo grego peri, em torno. Seria, portanto, como que o “revestimento” do Espírito.
O perispírito é o elo de ligação entre o Espírito e a carne.
Daí dizer-se que o homem é composto de três partes distintas:
Espírito, perispírito e corpo físico.
Como o perispírito é uma espécie de fôrma da forma física, ao desencarnar o Espírito tende a conservar a morfologia humana. Em condições especiais pode tornar-se visível aos homens, como nos casos citados.
Há múltiplas funções exercidas pelo corpo espiritual.
Está sempre presente nos fenômenos mediúnicos. É a natureza de sua ligação com o corpo físico que vai determinar se o indivíduo terá maior ou menor sensibilidade, se terá determinada faculdade a desenvolver.
Quando alguém está extremamente debilitado fisicamente, afrouxam-se os laços perispirituais, facultando-lhe visões do mundo espiritual. Esta a razão pela qual os moribundos parecem ter alucinações, reportando-se à presença de familiares e amigos desencarnados.
Realmente os vêem.

***

A saúde subordina-se estreitamente às condições do perispírito. Grande parte dos males físicos e psíquicos que nos afetam reflete seus desajustes.
A fluidoterapia ou a aplicação do passe magnético, prática comum nos Centros Espíritas, é uma transfusão de energias que tonificam o corpo celeste, com excelentes resultados.
Melhor ainda são os cuidados profiláticos – evitar o desajuste para não se perder tempo, nem desgastar-se com ele.
O perispírito reflete a vida íntima.
Consciência tranquila, deveres cumpridos, virtude cultivada – perispírito saudável.
Consciência culpada, irresponsabilidade, envolvimento com o vício, pensamento desajustado – perispírito comprometido.
Alguns casos ilustrativos.

• A mulher que pratica o aborto habilita-se à esterilidade, tumores e infecções renitentes.

• O alcoólatra terá problemas no sistema digestivo, particularmente no fígado.

• O fumante experimentará dificuldades respiratórias, envolvendo enfisema pulmonar, bronquite, asma…

• O suicida terá desajustes e enfermidades relacionados com a natureza do suicídio, a maneira que escolheu para furtar-se aos desafios da vida.

• O maledicente experimentará limitações no exercício da palavra – distúrbios vocais, dificuldade de raciocínio.

As conseqüências de nossas ações gravam-se no corpo etéreo a cada gesto, a cada má palavra, a cada pensamento negativo, refletindo-se em nossos estados emocionais, a gerar variados problemas físicos e psíquicos.
Por isso, se queremos cultivar a saúde e sustentar a harmonia, é preciso que observemos preciosa orientação do apostolo Paulo (Epístola aos Filipenses, 4:8):

Tudo o que é verdadeiro,
Tudo o que é honesto,
Tudo o que é justo,
Tudo o que é puro,
Tudo o que é amável,
Tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento.

(Richard Simonetti, livro Espiritismo, Uma Nova Era para a Humanidade.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário